A doce arte de preservar leitores

Respeitar e entender o público é um detalhe que muitas pessoas esquecem de prestar atenção.

Henggo
4 min readApr 9, 2019

AGRADEÇA. Sim, eu sei que começar um texto assim soa imperativo, quase um princípio de autoajuda. Mas é a verdade: agradeça. Estar no Wattpad não é fácil. A plataforma, por vezes, é confusa, as exigências são muitas, a rotina de publicar estressa e, pior, o retorno demora a vir. É um processo lento e, se não for levado a sério, pode causar sofrimento. Por isso, o fundamento deste artigo é a gratidão.

Entenda: é horrível passar horas e horas debruçado sobre uma folha em branco ou em uma tela vazia, moldar uma história e, no final das contas, não ter leitores. E, por favor, não me venha com o lugar comum de “eu escrevo só para mim”. Todos escrevemos para alguém. Somos seres sociais, estamos em comunidade, fomos moldamos para nos reconhecermos aos olhos do outro. O que acontece é que, alguns mais, outros menos, nos condicionamos (por medo, descrédito, receios, etc) a fortalecer esse escudo do “eu só escrevo para mim”. Em um mergulho mais fundo, posso até dizer que escrevemos para nossos egos. Eles são nossos primeiros leitores. Mas isso já é papo para outro artigo…

Voltando ao princípio, a frustração de não ter esse retorno é um fardo. E esse sentimento é intensificado por duas variantes.

Primeiro, o fato de vivermos em uma sociedade que mede dinheiro e fama como fatores de sucesso. Quer uma prova? Abra o YouTube e dê uma olhada na aba “Em Alta”. Há conteudos relevantes, não nego isso. Contudo, é claro que também há muitos videos ali feitos apenas no desespero por visualizações e por curtidas. Pessoas que se sujeitam a coisas apenas para alimentar essa fome por fama e por visibilidade.

Em segundo lugar, temos o próprio Wattpad. Apesar de não parecer, a plataforma de leitura e escrita é uma rede social. Porém, há um elemento diferente: o Wattpad lida com sonhos. Não que Facebook, Instagram e afins também não lidem, mas no Wattpad é um sonho mais profundo, por vezes, um sonho de ter uma carreira literária, um sonho intimista e que exige um esforço maior de exposição. Afinal, mesmo quando escrevemos ficção, parte de nossas almas, parte de nossas memórias e de nossas intimidades escorrem para o texto. É inevitável.

A questão é que, em um ambiente que mede o sonho de ser escritor por meio de curtidas, de comentários e de visualizações, o modo como lidamos com esses números pode ser um fator primordial para o verdade sucesso. E aqui voltamos à abertura deste artigo: agradeça.

Você tem apenas um leitor? Agradeça. Faça com que a experiência dessa pessoa ao ler o teu livro seja única. Trate-a não com aquele sentimento de “Ah, só tem você…”, mas sim com um grande “Ah, tem você!”. Percebe a diferença? Encante-a com a tua história e ela fará o papel de divulgação. E o melhor: espontaneamente, sem cobrar um centavo por isso.

Entenda uma coisa: um bom texto atrai público e um público envolvido com aquela história sempre retorna para desfrutar de mais.

Preserve os teus leitores. Responda aos comentários, interaja, esteja disponível, reconheça os erros. Não conseguiu publicar o capítulo no prazo? Fale a verdade. Apenas isso. Vai retirar o livro? Avise. Fizeram uma crítica sobre o teu livro? Tenha maturidade e absorva o máximo que puder daquelas palavras. Não caia no ridículo de receber críticas com pedradas. Isso mancha o teu nome, isso afasta leitores.

No fundo, a arte de preservar leitores é a arte de olhar para os números 10, 100, 1000 ou 10000 e ver apenas 1. Sim, um único leitor. É a arte de tornar a tua trama algo único para aquela pessoa. É o trabalho de estudar os meandros da escrita de modo a encantar e causar conexão. E, por experiência própria, eu reafirmo: ela vai querer teus outros livros e ela vai ser tua porta-voz de divulgação.

“[…] em um ambiente que mede o sonho de ser escritor por meio de curtidas, de comentários e de visualizações, o modo como lidamos com esses números pode ser um fator primordial para o verdade sucesso.”

Não olhe para os números. Olhe, sim, para a qualidade desses números. Se tomarmos o YouTube como exemplo, quantos canais com milhares de inscritos carecem de interação? Têm muitas visualizações, mas poucos comentários? Quantas contas do Instagram não passam pela mesma situação?

Em um mundo sentimentalmente desconectado, o teu diferencial é criar conexão com o outro. Por isso, agradeça. Se você ficar amuado por que não tem mais leitores, nada vai acontecer. Se queremos abraços, precisamos antes abrir os braços.

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Written by Henggo

Escritor, Revisor & Ghostwriter. Coleciona trilhas sonoras e nome estranhos de pessoas enquanto espera a chegada dos ETs. Saiba mais em linktr.ee/Henggo

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