Biden, Harris, São Luís e a democracia

Percepções sobre a minha cidade e o mundo onde vivo.

Henggo
3 min readNov 8, 2020
Vê-se um chafariz com jatos de água direcionados para cima de uma estátua de sereia no centro do monumento.
Fonte da Iara e Catedral Metropolitana, São Luís/MA . Arquivo pessoal, nov-2020.

NESTE 7 DE NOVEMBRO DE 2020, DIA DA VITÓRIA DE JOE BIDEN E DE KAMALA HARRIS COMO 46º PRESIDENTE E VICE-PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS, RESPECTIVAMENTE, EU TIVE UM DAQUELES PEQUENOS MOMENTOS DE REFLEXÃO QUE PARECEM VIR SEM ESTARMOS PREPARADOS, FRUTO DE COINCIDÊNCIAS DESTE GRANDE QUEBRA-CABEÇA CHAMADO VIDA JOGADO SOBRE O TABULEIRO CHAMADO MUNDO.

Após meses de isolamento social, uma amiga me convenceu a espairecer em um passeio pelo Centro Histórico de São Luís. Aceitei e às quatro horas da tarde cheguei no local e… atraso. Olhei o WhatsApp e ela estava presa em um engarrafamento. Esquecido de levar meu material de desenho, restou-me sentar em um dos bancos em frente à Prefeitura de São Luís e admirar o vai-e-vem dos carros e das pessoas.

Gente com máscara, gente sem máscara, famílias, casais, grupos de adolescentes. Uma modelo aproveitava a luz do entardecer para fazer um ensaio fotográfico em frente ao Palácio dos Leões, sede do governo do Maranhão. Próximo a ela, algumas pessoas tomavam sorvete enquanto sorviam os ventos litorâneos da Baía de São Marcos. Um vendedor ambulante carregava uma caixa com trufas de chocolate e uma senhora de andador conversava com uma jovem.

Eu estava imerso em minhas observações quando um grupo de quatro rapazes ocupou os dois bancos logo atrás de mim. Conversavam sobre frivolidades da vida e foi por meio deles que eu soube da vitória do candidato democrata na eleição estadunidense. Sorri. Após quatro anos com Donald Trump e seus rompantes ideológico-populista-sectários, a escolha de Joe Biden soa como um respiro de consciência.

Sementes para o futuro.”, pensei.

Tomei outra dose de paciência enquanto esperava por minha amiga. Tinha os pensamentos voltados para um governante a quilômetros e quilômetros de São Luís, quando um grupo de rapazes começou a conversar sobre os namorados. Um falou sobre um cara que o pediu em namoro, mas não parecia ser confiável, outro deu detalhes quase ginecológicos sobre os órgãos sexuais de um ficante e foi alvo de piada. Os outros comentaram sobre um amigo que pensava em casar com o noivo quando a pandemia terminasse.

E eis que, no banco ao meu lado, sentou-se um homem e uma mulher com o filhinho no carrinho de bebê. Em determinado momento, diante das pilherias do grupo de rapazes, o casal ao meu lado caiu na gargalhada junto com eles e chegaram a comentar as agruras da vida de casal. Minutos depois, quando o UBER pedido chegou, foram embora, assim como os rapazes, que desceram uma ladeira rumo ao abraço dos casarões históricos da capital maranhense.

Um deles vestia uma camiseta com as sete cores do arco-íris e tive uma fotografia interessante quando ele passou ao lado de três senhorinhas que tiravam uma selfie em frente à Catedral Metropolitana.

Mundos diversos no mesmo espaço. Bonito.

Fiquei ali ainda por um bom tempo, mas não mais tomado pela agonia da espera. Por baixo da máscara, havia um sorriso e um sentimento de esperança; sentimento de admiração da democracia. A milhares de quilômetros de distância da festa dos estadunidenses pela vitória de Biden e de Kamala Harris, eu consegui sentir os ares de esperança que varreu parte dos EUA e, sem dúvida, parte do mundo.

Pois lá e aqui estavam provas de democracia: eleições, perdas e ganhos, civilidade, diversidade, grupos diferentes no mesmo espaço; respeito, cores, diálogos, sorrisos, pessoas sendo o que são sem receio.

Minha amiga só chegou quarenta minutos depois, já quase no anoitecer. Eu não me importei.

Eu estava feliz.

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Written by Henggo

Escritor, Revisor & Ghostwriter. Coleciona trilhas sonoras e nome estranhos de pessoas enquanto espera a chegada dos ETs. Saiba mais em linktr.ee/Henggo

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