Coronavírus: a desigualdade do isolamento social
Diante da pandemia, a desigualdade social no Brasil fica ainda mais evidente — e revela uma tragédia secular que agora ganha tons mais sofridos.
#fiqueemcasa ESSENCIAL, INEGÁVEL, EFICIENTE, EMPÁTICO, UM ATO DE SOLIDARIEDADE. Contudo, você já parou para pensar em como há dois mundos distintos quando você pede algo assim? O Brasil, obviamente, não é a Itália, não é os Estados Unidos (apesar da paixão de Bolsonaro por Trump) e não é a China (para a tristeza do nosso presidente que adora a ditadura). Em tempos de isolamento em prol da vida, nossas desigualdades sociais ficam ainda mais evidentes.
E eu não preciso recorrer a estatísticas para ver isso.
Eu moro em um bairro provido de água encanada, pavimentação, posto de saúde e delegacia perto de casa. Eu tenho carro, trabalho de casa, tenho reservas financeiras. Os quartos têm banheiro individual, a casa é arejada, temos acesso à informação.
Eu tenho consciência de que faço parte dos 5% da população com acesso a esse conjunto de recursos.
E aqueles que não têm?
Seria muito fácil eu gritar um grande e sonoro #fiqueemcasa, preocupado comigo e com a minha mãe. Mas será que não seria hipócrita? Eu ando me perguntando sobre isso… E as pessoas que precisam trabalhar para comer? Que precisam trabalhar de manhã para comprar o almoço e que precisam trabalhar a tarde para tentar comprar o jantar? E o pessoal dos bairros periféricos, que vivem em casas pequenas, muitas ainda com fossas e sem água encanada? É tão simples o isolamento?
MILHÕES de pessoas no Brasil não têm SABÃO pra lavar as mãos!
MILHÕES de pessoas vivem com menos de R$300 POR MÊS!
MILHÕES de brasileiros não têm o MÍNIMO de CONDIÇÕES SANITÁRIAS!
E a população de rua? E os moradores de palafitas?
Comprar álcool em gel? COMO? Entre dar de comida aos filhos e comprar álcool em gel, você acha que essas pessoas vão priorizar o quê? Isso se tiverem dinheiro para a comida… O Ministro da Economia anuncia recentemente um voucher mensal de R$200,00 para as população de baixa renda. Duzentos reais… É o suficiente, ministro?
E se formos pensar na consequência do isolamento apenas pelo lado do entretenimento, as coisas não ficam melhores…
Por exemplo, eu tenho computador, wi-fi em casa, plano de celular com internet, TV a cabo, Netflix, biblioteca… Tens ideia de quantas pessoas, quantos milhões de brasileiros, só tem uma televisão em casa? Quantos têm celular, mas com planos em que apenas o WhatsApp é gratuito? Quantas pessoas não têm nada? Absolutamente NADA?
É difícil.
Ficar em casa é importante, é a melhor maneira de se proteger. No entanto, é um privilégio para poucos…
Não. O Brasil não é justo nem nessas horas.
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