HOJE EU SAÍ E VI A CIDADE. Mas a cidade não me viu, trancada como estava.
Eu vi as ruas calmas correndo sem filas. Eu vi um mendigo com uma camisa no rosto na tentativa de se proteger. Eu vi pessoas mascaradas se esquivando umas das outras. Eu vi uma senhora na parada de ônibus com o olhar perdido ao horizonte e um terço nas mãos como se perguntasse “Meu Deus, por que nos abandonastes?”
Eu vi.
Vi faixas separando atendentes dos clientes. Vi olhares de repulsa àqueles que insistiam no contato. Vi mãos sem apertos e braços sem abraços. Eu vi casarões históricos calados e praias cantando apenas o mar. Eu vi pássaros encantados com o silêncio onde antes só se tinha correria.
Ao menos eles pareciam despreocupados…
Eu vi escolas sem gritos, vans sem alunos, portões sem pais e filhos. Eu vi a chuva, mas ela não lavou ninguém. Eu vi carros com adesivos de família, mas com pessoas sozinhas atrás do volante.
E então, eu vi os heróis…
Aqueles da entrega em suas motos para cima e para baixo. Eu vi Supermans, Batmans e Homens de Ferro personificados nos lixeiros. Eu vi guerreiros atrás da esteira dos supermercados. Eu vi soldados com panfletos nas mãos e frentistas empunhando cuidado. Eu vi faxineiros, nutricionistas, cozinheiros, administradores, assistentes sociais e diretores nos Olimpos da medicina.
Eu vi os deuses nos hospitais e nos Centros de Saúde com seus jalecos cheios determinação. Eu vi ajuda na organização do caos.
Vi lágrimas, mas também sorrisos.
Eu vi São Luís, mas São Luís não me viu, pois estava em silêncio em orações de esperança para, finalmente, voltarmos a nos ver.