ÀS VEZES, ACHO QUE ESSA MÁSCARA NÃO SAIRÁ DO MEU ROSTO. Nem a da Covid, nem a máscara da vida. A máscara do bom garoto, do descolado, do diferente que largou as redes sociais; do independente que pediu demissão de tudo e esqueceu-se de pedir demissão dos próprios medos e dos próprios traumas.
A máscara pesa.
Às vezes, olho para os pássaros em uma árvore acima do muro do quintal. Eles ficam lá, parados no alto de suas liberdades, cantoria a plenos pulmões, coragem para se jogarem e voarem sem rumo. Há um em especial que todos os dias fica bem na pontinha do galho mais alto. E canta. Canta para si, canta para o mundo, canta para o silêncio. E voa sem ligar para as mediocridades humanas.
As máscaras nos fazem cair.
Às vezes, lembro de coisas que não devia — ou será que lembrar é o que me mantém de pé? Não sei. Há cansaço em carregar pesos que ninguém vê — ou não querem ver. Quando dizemos “Bom dia” estamos desejando ou estamos repetindo? Olhamos robôs no futuro e não percebemos o que nos tornamos.
As máscaras são masoquismo de alguém incapaz de se desmascarar.
Às vezes, tenho medo de tirar a máscara. Tirar a máscara e ver que não possuo mais rosto. E virei só mais um, que sobrevive sem viver, ri sem sorrir e alegra-se enquanto chora por dentro. Há algo de errado em um mundo que exige máscaras e não enxerga as próprias dores.
As máscaras exigem escárnio.
Às vezes, pergunto-me o que teria acontecido se eu tivesse seguido com a luz no dia em que tive a Experiência de Quase Morte.
As máscaras sufocam ao anoitecer.
É triste.
A obra Faces #004 pode ser vista junto à outras telas, escritos e ilustrações em https://linktr.ee/Henggo