SE EU ME DEITASSE AGORA, EU SEI QUE DORMIRIA
Sonharia de novo com possibilidades de fim
Vacas mortas por sarjetas pulantes de sangue
Mortos andantes nas andanças a esmo
Mundo cansado, moribundo, enfim
Se eu me deitasse agora, eu sei que apagaria
Velejaria por sombras do menino que ri
Cadela sufocada no colo do dono
Doentes respirando cinzas dos mortos
Planeta moribundo tomando morfina
Se eu me deitasse agora, eu sei que esqueceria
Viraria um qualquer nas mãos de Morfeu
Cairia num abismo de incredulidade
Crente nas crenças de velhos sonhos
Sozinho na descrença da realidade
Se eu me deitasse agora, eu sei que voaria
Deixaria para trás a necessidade de ser
Nadador da escuridão rumo às profundezas
Lobo autofágico sedento da carne de si
Berrador emudecido em caixa de censura
Se eu me deitasse agora, eu sei que atiraria
Travesseiro-veleiro no contexto do caos
Lençol-vela aberto ao relento
Bala-pesadelo no desnudar madrugador
Despertar profundo na superfície da vida
Se eu me deitasse agora, tudo mudaria
Silenciar de tramas sem começo nem fim
Calendários rasgados
Textos queimados
Corpo cremado
Se eu me deitasse agora, eu sei que morreria
Se eu me deitasse agora
Se eu apenas me deitasse
Deitasse… agora…
Deito…
Adeus.