Você precisa MESMO lançar um livro físico? (Artigo)
A angústia de alguns autores independentes para lançar um livro em formato físico pode levar a atitudes extremadas e muitas decepções com a carreira literária.
Sabe a história de São Tomé, que só acreditou que Cristo era Cristo quando tocou nas chagas do coitado? Pois então: você não precisa transformar teu livro em físico, tocar nele, para se dizer escritora ou escritor. Sim, parece óbvio. Mas saiba que muitas, muitas (e põe mais uns três “muitas”) pessoas só se julgam dignas do título quando têm o livro em mãos. Por favor, ponha a mão na consciência…
Você escreve livros, contos, crônicas, artigos, poesias? Você já é uma autora, ok!? Você já pode bater no peito e dizer “sou escritor”. Você já é o diferencial. Um livro físico não é a definição da tua arte. Aqui neste contexto de busca desenfreada pela concretude, ele se torna um mero símbolo de status. Não ignore todo o teu percurso digital por causa de 200, 300 folhas. Tome o livro físico como uma vírgula, não como um ponto final.
Eu sei que há todo um imaginário com o livro físico. Há toda uma devoção ao cheiro do papel (e veja que eu faço parte da AVICLIN — Associação dos Viciados em Cheiro de Livros Novos!). Há uma espécie de “devoção coletiva” ao escritor sentado na Bienal com pilhas de livros ao redor. E isso é muito fruto de uma sociedade ainda materialista. No entanto, os tempos mudaram. Diferente do que muitos previram, o livro físico não morrerá, mas ele perdeu e continuará a ceder espaço para o digital. É inevitável.
Eu acho engraçado como muitos ao meu redor ficam encantados pelo fato de eu escrever e de ter a capacidade de elaborar um livro, mas sempre perguntam: “OK. E quando tu vais lançar o livro?”. Amada, eu tenho leitores em Cabo Verde e no Japão! Eu vou lançar livro físico pra quê? Pra satisfazer o ego dos outros? Eu não escrevo para dar satisfação para ninguém.
Eu me sinto completo com a minha arte. Ponto. E sou feliz. Todo o resto é consequência. O que percebo é que muitos escritores e escritoras não SÃO felizes com a própria escrita, apenas ESTÃO felizes. Vivem num eterno esperar por “algo maior” que se concretizaria em um livro físico.
Ir em busca de um sonho é algo lindo. Contudo, não menospreze o próprio esforço e talento só porque você não tem (ou ainda não tem) o teu livro impresso em mãos. Eu sei de dezenas de casos de pessoas que hoje têm caixas de livros em casa e começaram até a distribuir de graça. Um conhecido meu caiu na loucura de mandar imprimir 1000 (sim, MIL livros!) e tá estagnado. Mas se acha a última bolacha do pacote só porque tem livro impresso e conversa comigo com o nariz empinado. Bom, eu sou feliz, não tenho dívidas e sou lido. Quem fez o certo?
Construa teu público, curta a jornada de escrita, vá com calma e, o essencial, DEFENDA A TUA ESCRITA! Reclamam que “falta um livro físico”? Mostre o dedo do meio e mande se f****. É sério!
Repito o cliché: a primeira pessoa que deve acreditar na tua escrita não é a tua mãe, não é o teu pai, teus tios, avós ou amigos. É TU MESMO! E se você duvida de si no digital, eu te garanto que um livro físico NÃO VAI MUDAR ISSO. Será apenas uma máscara para ocultar o medo.